Funções da Linguagem

Para a maior parte dos falantes, o uso da linguagem se dá de modo automático. Por isso, raramente se percebe que o modo como se organiza a linguagem está diretamente ligada à função que se deseja dar a ela, isto é, à intenção do emissor (ou locutor).
            A linguagem desempenha determinada função, de acordo com a ênfase que se queira dar a cada um dos componentes do ato de comunicação. Desse modo, assim como são seis os componentes do ato de comunicação, seis são as funções que a linguagem pode assumir: emotivaconativareferencialmetalinguísticafática e poética.



  1. Função emotiva (ou expressiva)
Ocorre quando o emissor (locutor) é posto em destaque. Reflete o estado de ânimo do emissor, os seus sentimentos e emoções. Um dos indicadores da função emotiva num texto é a presença de interjeições e de alguns sinais de pontuação, como as reticências e o ponto de exclamação.Veja um exemplo:
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
                                          Vinícius de Moraes
Observe que esse poema está centrado na expressão dos sentimentos, emoções e opiniões do emissor (locutor). É um texto subjetivo, pessoal. O destaque dado ao emissor é reforçado pela presença de verbos e pronomes na primeira pessoa: “Às vezes me pinto nuvem”. É comum também nesse tipo de função a presença de interjeições e, na pontuação, reticências e pontos de exclamação.  
2. Função Referencial ou Denotativa
            Ocorre quando o referente (ou contexto, informação) é posto em destaque. Transmite uma informação objetiva sobre a realidade. Dá prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias. É a linguagem característica das notícias de jornal, do discurso científico e de qualquer exposição de conceitos. Coloca em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a mensagem se refere.Veja o exemplo:
FÍSICOS EQUACIONAM NÓS PARA GRAVATAS
                                                                                             da “Reuters”
                Dois físicos de uma das mais conceituadas universidades do Reino Unido – a de Cambridge – fizeram um estudo matemático para descrever nós de gravata com equações.
                Os físicos equacionaram os movimentos necessários para fazer os quatro nós mais usados e propuseram seis novos nós. Eles concluíram também que há 85 maneiras diferentes de atar uma gravata. (…)                                                                                                                    (Folha de S. Paulo, 5/3/99)
Observe que a intenção principal do autor desse texto é informar o leitor sobre os resultados dos estudos feitos por um grupo de pesquisadores ingleses a respeito de nós de gravata.
                Os textos jornalísticos, científicos e didáticos são o melhor exemplo da função referencial.
3. Função conativa (ou apelativa)
Ocorre quando o receptor (ou interlocutor) é posto em destaque e é estimulado pela mensagem. Seu objetivo é influenciar o receptor ou destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. É a linguagem usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.Leia o anúncio:




É comum, nos textos com função predominantemente conativa, o emprego de verbos no modo imperativo (“compartilhe”) e de verbos e pronomes na 2ª ou na 3ª pessoas; nesse caso, em concordância com o pronome de tratamento você.
Veja outros exemplos:
Antônio, venha cá! 
Compre um e leve três. 
Beba Coca-Cola. 
Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: 
Mercedes-Benz.
4. Função metalinguística

Ocorre quando o código é posto em destaque.

Leia este verbete de dicionário:
Quadrinhos: s.m.pl. Narração de uma história por meio de desenhos e legendas dispostos numa série de quadros; história em quadrinhos..
(Celso Pedro Luft. Minidicionário Luft.9ªed. São Paulo:
Ática/Scipione, s.d. p.511)
        Observe que a intenção fundamental desse texto é esclarecer ao falante da língua portuguesa qual o sentido de uma palavra dessa língua: quadrinhos. Nesse caso, o código da língua é utilizado para explicar a si mesmo.    



5. Função poética
Ocorre quando a própria mensagem é posta em destaque. É aquela que põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, que se preocupa mais em como dizer do que com o que dizer. O escritor, por exemplo, procura fugir das formas habituais e expressão, buscando deixar mais bonito o seu texto, surpreender, fugir da lógica ou provocar um efeito humorístico. Embora seja própria da obra literária, a função poética não é exclusiva da poesia nem da literatura em geral, pois se encontra com frequência nas expressões cotidianas de valor metafórico e na publicidade. Leia estes versos do poeta Jorge de Lima:



Observe que o poeta, mais que informar o receptor sobre os fogos de artifício, procura chamar a atenção para o modo como foi organizada a mensagem, o texto.
               Ao selecionar as palavras que compõem o texto, o poeta escolheu as que realçam a sonoridade do conjunto e sugerem os sons da queima dos fogos de artifício.  O uso de recursos literários na construção da linguagem evidencia a função poética, que ocorre principalmente em textos literários, tanto em prosa como em verso.
6. Função fática
Ocorre quando o canal é posto em destaque. Tem por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação. É aplicada em situações em que o mais importante não é o que se fala, nem como se fala, mas sim o contato entre o emissor e o receptor. Fática quer dizer “relativa ao fato”, ao que está ocorrendo. Aparece geralmente nas fórmulas de cumprimento: Como vai, tudo certo?; ou em expressões que confirmam que alguém está ouvindo ou está sendo ouvido: sim, claro, sem dúvida, entende?, não é mesmo? É a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.Leia esta tira:






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