Vanguardas Europeias
VANGUARDAS EUROPEIAS
(1917 – 1930 no Brasil)
Os movimentos de vanguarda
emergiram na Europa nas duas primeiras décadas do século 20 e provocaram
ruptura com a tradição cultural do século 19. Foram extremamente radicais e
influenciaram manifestações artísticas em todo o mundo.
Com o advento da
tecnologia, as consequências da Revolução
Industrial, a Primeira Guerra
Mundial e atmosfera política que resultou destes grandes
acontecimentos, surgiu um sentimento nacionalista, um progresso espantoso das
grandes potências mundiais, e uma disputa pelo poder. Várias correntes
ideológicas foram criadas, como o nazismo, o fascismo e o comunismo, e também com a mesma terminação “ismo” surgiram os movimentos
artísticos que chamamos de vanguardas. Todos pautavam-se no mesmo
objetivo, que era o questionamento, a quebra dos padrões, o protesto contra a
arte conservadora, a criação de novos padrões estéticos, que fossem mais
coerentes com a realidade histórica e social do século que surgia.
No Brasil, não poderia ser diferente, uma vez que este era o exato
momento da história em que as manifestações artísticas estavam crescendo em
nosso país, e que a maioria dos artistas se espelhavam nas tendências
europeias, fosse para imitar-lhes, fosse para combater-lhes.
As
vanguardas europeias passaram pela Literatura Brasileira deixando sua
contribuição, especialmente ao somarem com a Semana de Arte Moderna e o movimento modernista, pois juntos
vieram romper com a antiga estética que até então reinava em nosso país.
As cinco principais correntes vanguardistas que mais influenciaram o fazer literário no Brasil foram:
·
Futurismo
·
Cubismo
·
Dadaísmo
·
Expressionismo
· Surrealismo.
Futurismo:
Primeiro movimento merecedor da classificação de vanguarda, caracteriza-se pelo interesse ideológico na arte. Sua produção preconiza a subversão radical da cultura e dos costumes, negando o passado em sua totalidade e pregando a adesão à pesquisa metódica e à experimentação estilística e técnica.
A Dona Branca Clara
Tome-se duas dúzias de beijocas
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho do Ciúme
Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas horas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo
Adicione-se três gramas de polvilho do Ciúme
Deite-se quatro colheres de açúcar da Melancolia
Coloque-se dois ovos
Agite-se com o braço da Fatalidade
E dê de duas horas em duas horas marcadas
No relógio de um ponteiro só!
Oswald de Andrade
Cubismo:
Resultado das experiências de Pablo Picasso (1881 – 1973) e de Georges Braque (1882 – 1963), esteve, inicialmente, ligado à pintura e teve por princípio a valorização das formas geométricas. Na literatura, caracteriza-se pela fragmentação da linguagem e geometrização das palavras, dispostas no papel de maneira aleatória a fim de conceber imagens.
HÍPICA
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
Oswald
de AndradeSaltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
Dadaísmo:
Surgido em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), constitui um grito de revolta contra o capitalismo burguês e o mundo em guerra. Por isso, os dadaístas são contra as teorias e ordenações lógicas.
Para
fazer um poema dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que
você deseja darão seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo
e meta-as num saco.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que
você deseja darão seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo
e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o
outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que
elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
Eei-lo um escritor infinitamente original e de
uma sensibilidade graciosa,
ainda que incompreendido do público.
Tire em seguida cada pedaço um após o
outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que
elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
Eei-lo um escritor infinitamente original e de
uma sensibilidade graciosa,
ainda que incompreendido do público.
Tristan Tzara
Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O
burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!
Padaria Suíssa! Morte viva ao
Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
_ Más nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh!
Gelatina pasma!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
Oh! Purée de batatas morais!
Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o
compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Mário de Andrade
Tem como herança a arte do final do século 19 e valoriza aquilo que chama de expressão: a materialização criativa (na tela ou no papel) de imagens geradas no mundo interior do artista.
Sofrimento
Como estou atrelado
À carroça de carvão da minha dor!
Repelente como uma aranha
Rasteja sobre mim o tempo.
Cai-me o cabelo,
Encanece-me a cabeça para o campo,
Para lá do qual ceifa
O último segador.
O sono ensombra-me os ossos.
Morri no sonho já,
Erva nascia do meu crânio,
De negra terra era a minha cabeça.
Como estou atrelado
À carroça de carvão da minha dor!
Repelente como uma aranha
Rasteja sobre mim o tempo.
Cai-me o cabelo,
Encanece-me a cabeça para o campo,
Para lá do qual ceifa
O último segador.
O sono ensombra-me os ossos.
Morri no sonho já,
Erva nascia do meu crânio,
De negra terra era a minha cabeça.
Albert Ehrenstein
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu
Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Mário
de Andrade
Surrealismo:
Como o Expressionismo, preocupa-se com a sondagem do mundo interior, a liberação do inconsciente e a valorização do sonho. Esse fascínio pelo que transcende a realidade aproxima os surrealistas das ideias do psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939).
Reflexão
nº1
Ninguém sonha duas
vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.
Murilo Mendes
O Concretismo começa a despontar no
Brasil com a publicação da revista Noigandres pelos três poetas: Décio
Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Porém, fixa-se no Brasil com
a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, no Museu de Arte Moderna de São
Paulo.
As
poesias concretas trazem novas formas de expressão: valorização da forma e da
comunicação visual, sobrepondo ao conteúdo.
O poema
da poesia concreta é chamado de poema-objeto por causa dos recursos
estilísticos adotados: a eliminação de versos e a incorporação de figuras
geométricas. Os poemas concretos possuem carga semântica, mas diferenciam-se
por enfatizar o conteúdo visual e sonoro das palavras.
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