Linguagem Poética






Linguagem Poética

Recursos utilizados para escrever um poema: estrofes, figuras de linguagem, rimas e métrica (divisão silábica)

Juntamente com a sistematização escrita da poesia, surgiram classificações para os elementos que a compõem. Assim cada frase ou linha de um poema é denominada versos, e a composição sonora entre elas é denominada rima.




                                                                           
Rima pobre
(Utiliza palavras da mesma classe gramatical)

Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado:
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal, em chamas derretido:

Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queima com porfia?
Mas ai, que andou amor em ti prudente!

Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
                                           Gregório de Matos

Rima Rica
(Utiliza palavras de classes gramaticais diferentes)

Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas ...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem livres de fome e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas.
E os amores das aves tagarelas

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem
                                                  Olavo Bilac



Cruzadas

                Maldição
Se por vinte anos, nesta forna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh'alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e locura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor que eu deixei de ser
                                        Olavo Bilac

Intercaladas
                    Idílio
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas

Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
                                     Antero de Quental
Paralelas 
        4º  Motivo da rosa           
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
                                     Cecília Meireles



Dístico

( . . . )
De onde vieste, afinal? De que imortal paisagem
fugiu, um dia, a forma flor de tua imagem

fragílima, de um doce encanto doloroso,
de um divino  palor ardente e luminoso

como feita à feição de alguma estampa antiga,
de um missal de outro tempo, onde a insone fadiga

de algum monge sofreu? De onde vens? De algum sonho
místico? Do fulgor magnífico e tristinho
( . . . )
                                        Eduardo Guimarães

Terceto

           Mote                                        

       De  dous  ff  se  compõe
       esta  cidade  a  meu ver
       um furtar,  outro foder.
                                 Gregório de Mattos

Quarteto

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
( . . . )
                Gonçalves Dias

Quinteto
Garoa do meu São Paulo,
- Timbre triste de martírios -
Um negro vem vindo, é branco!
Só bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.

Meu São Paulo da garoa,
- Londres das neblinas frias -
Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico.

Garoa do meu São Paulo,
- Costureira de malditos -
Vem um rico, vem um branco,
São sempre brancos e ricos...
Garoa, sai dos meus olhos.
                      Mario de Andrade

Sexteto
          VÍCIO NA FALA

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
                      Oswald de Andrade


Sétima
             erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
                    Oswald de Andrade

Oitava
              Madrugada
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite
a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes
                                        Ferreira Gullar

Nona
SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
               Mario Quintana



As poesias ainda podem ser receber as nomenclaturas:
  
Ode – Composição poética dividida em estrofes simétricas; primitivamente, composição poética para ser cantada


Ode à Cebola

Cebola,
luminosa redoma,
pétala a pétala
formou-se a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra sombria
arredondou-se o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
deu-se o milagre
e quando apareceu
teu rude caule verde,
e nasceram
as tuas folhas como espadas no horto
a terra acumulou seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar distante
duplicou a magnólia
levantando-lhe os seios,
a terra
fez-te assim,
cebola,
clara como um planeta,
e destinada
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de agua,
sobre
a mesa
dos pobres.

Generosa
desfazes
teu globo de frescura
na consumação
fervente do cozido,
e o giram de cristal
ao calor inflamado do azeite
transforma-se em ondulada pluma de ouro.
Recordarei também como a tua influência
fecunda o amor da salada
e parece que contribui o céu
dando-te a fina forma do granizo
a celebrar a tua luz picada
sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance
das mãos do povo,
regada com azeite,
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolta
em delicado
papel, tu sais do solo,
eterna, intacta, pura
como semente de astros,
e ao cortar-te
a faca de cozinha
sobe a única lagrima
sem mágoa.
Fizeste-nos chorar mas sem sofrer.
Tudo o que existe celebrei, cebola,
mas para mim és
mais formosa que um pássaro
de plumas ofuscantes,
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
baile imóvel
de anémona nevada.
                             (Pablo Neruda)


Elegia – Poema pequeno, consagrado ao luto ou à tristeza.

Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
                                        Carlos Drummond de Andrade


Trova – Composição lírica, ligeira e de caráter popular; cantiga, canção; quadra popular

Canção da Saudade

Saudade, palavra doce,
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.

Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porquê.

Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.

Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.

Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção:
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.

Um longe olhar que se lança
Numa carta ou numa flor,
Saudade – irmã da esperança,
Saudade – filha do amor.

Uma palavra tão breve,
Mas tão longa de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem, a saber, traduzir.

“Gosto amargo de infelizes”
Foi como a chamou Garrett;
Coração, calado, dizes
Num suspiro o que ela é.

A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto de uma vez;
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.

Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem querer.

A saudade é calculada,
Por algarismos também:
“Distância” multiplicada
Pelo fator “Querer bem”.

A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor...
Saudade – dor que é remédio,
Remédio que aumenta a dor.
                             Bastos Tigre


Loa – discurso laudatório; apologia

                     Festa dos Bichos
  Quando o bode era doutor
        E o cachorro advogado
        Tudo andava direito
        O mundo bem governado
        A justiça muita reta
        Ninguém vivia enganado.

        O leão sempre foi rei
        Casado com uma leoa
        Jacaré seu bacharéu
        Onça grande pessoa
        Mestre sapo professor
        Na beira de uma lagoa

        Coelho chefe do mato
        Peru era viajante
        O galo por ser tenor
        Tinha o café constante
        Macaco bobo do rei
        E urso rapaz amante
        O porco era um vagabundo
        Passava o dia a beber
        Dessa maneira ninguém
        Seu amigo queria ser
        Pois toda festa que havia 
        Ele queria saber

        Um dia mestre coelho
        Fez uma festa no mato
        Foi cachorro, jacaré...
        Gente de mais aparater
        Finalmente todos os bichos
        Menos porco e mestre gato.

        E a festa começou...
        Rato tocava flauta
        Periquito rabecão
        Catitu seu contra baixo
        Cururu no violão
        Papagaio reco-reco
        E tatu no bombardão
             
        O pinto ia com os pratos
        Carneiro com o tambor
        Curica numa rebeca
        Era quase professor
        Mestre sapo como chefe
        Era feito o regedor

        Quando o porco soube disso
        Ficou logo injuriado
        Disse ao gato: Vamos lá!
        Eu garanto por teu lado
        Se não nos deixarem entrar
        O baile está terminado

        O gato disse: Eu não vou.
        Porque acabo apanhando
        O porco lhe respondeu:
        Você bem está mostrando
        Que é gato sem coragem
        Pois fique, que eu vou andando

        O porco chegando lá
        Queria o baile invadir
        Jacaré veio e falou 
        Mandou ele sair
        O porco não obedeceu
        Foi preciso a onça intervir

        O porco sacou a faca para matar ou morrer
        A cutia teve um ataque 
        A paca queria correr
        Galinha caiu sem fala
        Dura sem se mexer

        Catraia gritava tanto
        Que tremia a luz da lua 
        Minhoca nem acertava
        Para que lado era a rua
        Cutia ficou sem pen
        Siricória quase nua

        Borboleta há muito tempo
        Já tinha se escapolhido
        Mosca fez sua viajem
        Levou pion  seu marido
        Graça disse: -Vocês briguem 
        Mas,não me sujem o vestido

        Girafa como era grande
        Estava tudo apreciando
        Quando viu em suas costas
        Arara estava trepando
        Mosquito sumiu na floresta
        E coruja saiu voando

        O urso logo zangou-se
        Pela sua namorada
        Que era uma linda anta
        E estava ali bem trajada
        Por um porco embriagado
        Sendo desrespeitada
        Afinal com muito custo
       Botaram o porco para fora
       Já tinha dado e apanhado
       Por isso,disse: É agora
       Antes que chegue a polícia
      Vou tratar de ir embora

      Não demorou veio o elefante
      Que era seu delegado
      Com camelo seu colega
      Oficial reformado 
      E logo atrás o cavalo
      No seu papel de soldado

      Coelho então contou-lhes
      O que tinha acontecido
      Além disso,por ruim
      Porco era conhecido
      De forma que elefante 
      Deu tudo por irresolvido

      Levaram a queixa ao leão
      Da forma que tinham dado
      Ali foi expresso a ordem de o porco
      Ser procurado
      Mas, por onde andava ele? 
      Era o caso ignorado
     
      Foram na casa do gato
     Que dele era amigo
     O que me diz deste homem?
     Tornou-se meu inimigo
     Deu-me pancada
     E roube-me 
     Deixou-me como um mendigo
     Justamente o gato estava
     Com o corpo todo marcado
     Não tinha nem um vintém
     O seu baú arrombado
     O porco só lhe fez isso
     Por não ter lhe acompanhado
     Levaram o gato doente
     À presença do leão
     O qual entre gemidos
     Também pediu punição
     De o porco ser procurado 
     Para entregar ao leão

     No outro dia a mucura
     Também foi lá se queixar
     Mostrando o braço para o rei
     Que prometeu lhe vingar
     Resolveram irem todos
     Mestre porco procurar
         
     Ganhava um conto de rés
     Quem mestre porco pegasse
     Tinha um ano de folga
     O soldado que o encontrasse
     Fosse vivo ou fosse morto
     Certo é, que ao rei levasse

     Fosse vivo ou fosse morto
     Não era essa a questão
     Ganhava sempre seu prêmio
     O porco à punição
     Era mais quem procurava 
     Para entregar ao leão
        
     Andaram mais de um mês
     Sem saber o paradeiro
     Até que um dia o encontraram 
     Bêbado num atoleiro
     Querendo dar num mucuím
     Por não ser seu companheiro
       
     Cachorro veio e lhe disse:
     Olha, eu sou advogado 
     O pergaminho que tenho 
     É de ser bem respeitado
     Se não quiser ir por bem 
     Mando levá-lo amarrado
       
     Eu irei, disse o porco,
     Mas, só se for carregado
     E para casa do rei 
     Sem demora foi levado
      
     Chegando lá estava a leoa
     Sentada numa cadeira 
     Vendo o porco muito sujo
      Falou-lhe desta maneira:

     Porco imundo, qual a causa 
     De tu seres valentão?
     Sabes que ser valente
     Basta o teu rei leão
     De ti tenho muitas queixas
     Só de má informação

     Pouco importa, disse o porco
     Me sai tudo pela custa 
     Se alguém me deve uma conta
     Cedo ou tarde sempre ajusto
     Não há justiça de rei
     Que venha meter-me susto

     Formou o leão um juri
     Para o porco ser julgado
     Foi quando este conheceu
     Que estava desgraçado
     Por prova que a seu favor
     Nem porca tinha votado

     Afinal com muito custo
     A comédia teve fim
     Teve o decreto do rei
     Que foi deste jeito assim:

     Como justiça de rei
     À sua majestade o leão
     Manda fazer avisados
     Que o porco não tem razão
     Decreto a pena máxima
     30 anos de prisão
                       Rodolfo Coelho Cavalcanti

Acróstico – Composição poética, em que as letras iniciais (por vezes mediais ou finais de cada verso), reunidas, formam verticalmente uma palavra ou frase.


         Minha Razão de Viver
Felicidade maior que se
Instalou em minha vida...
Luz que ilumina e me mostra o
Horizonte a seguir... Abrigo
Onde repouso meus
Sonhos, sem nunca pensar em desistir
                                                                                    Santher




ALITERAÇÃO -  Repetição de sons consonantais idênticos ou aproximados, para sugerir o  som produzido por algum ser ou objeto

Rio na sombra

Som
frio

Rio
sombrio.

O longo som
do rio
frio.
O frio
bom
do longo rio.

Tão longe,
tão bom,
tão frio
o claro som
do rio
sombrio!
    (Cecília Meireles)

  
ASSONÂNCIA -  Repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Canção da garoa
Em cima do meu telhado
Pirulin lulin lulin
Um anjo todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber por que ...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...
              (Mario Quintana)


ECO – Repetição, em seqüência, de um determinado som no final de palavras, no interior de um verso.

Sino de Belém, pelos que ainda vêm!
Sino de Belém, bate bem – bem – bem.

Sino de Paixão, pelos que lá vão!
Sino de Paixão, bate bão – bão – baõ.

Sino de Bonfim, por que chora assim?
     (Manuel Bandeira – Os sinos – fragmento)


“Na messe, que enlourece, estremece, a quermesse.”
                                                (Eugênio de Castro)


METÁFORA – quando a palavra passa a indicar alguma coisa com a qual mantém uma relação subjetiva, pessoal. Baseia-se em uma comparação indireta.
Não desças os degraus dos sonhos
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por tràs de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco esse nosso mundo...
                                    (Mario Quintana)

COMPARAÇÃO – utiliza-se da relação direta estabelecida entre a palavra e aquilo que se pretende designar, comparando, assim, de uma forma clara.
       O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
 
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
 
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
 
O bicho, meu Deus, era um homem.
                                      (Manuel Bandeira)

 
METONÍMIA – quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade.
                                       A laçada
    “O Bento caiu como um touro
                   No terreiro
     E o médico veio de Chevrolet
          Trazendo o prognóstico
    E toda a minha infância nos olhos”.
                                       (Oswald de Andrade) 

“Meus olhos estão tristes porque você partiu”

 
PERSONIFICAÇÃO
Poema Personificação
A água corria rio abaixo ao urro do vento ululante.
Em um chalé chocolate, pouco abaixo,
podiam-se ouvir o canto das panelas de pressão
e dos bules de chá cansados de apitar.
As ideias, tinham resolvido fugir daquela casa,
melhor, da cabeça de Ana.
Adormecida em pensamentos,
nem sequer sentia a pressão das panelas.
O aposento, adormecido em seu triste coração,
chorava baixinho junto ao vento.
Ana, parecia desmaiada, já estava em um baile,
dançando com os dedos no violão.
                                                                      (Clara Callado)
  
INVERSÃO – Recurso em que consiste na inversão da ordem dos fatos.

2º Soneto à Morte de Afonso Barbosa da França

Alma gentil, espírito generoso,
Que do corpo as prisões desamparaste,
E qual cândida flor em flor cortaste
De teus anos o pâmpano viçoso.
Hoje, que o sólio habitas luminoso,
Hoje, que ao trono eterno te exaltaste,
Lembra‑te daquele amigo a quem deixaste
Triste, absorto, confuso, e saudoso.
Tanto tua virtude ao céu subiste,
Que teve o céu cobiça de gozar‑te,
Que teve a morte inveja de vencer‑te.
Venceste o foro humano em que caíste,
Goza‑te o céu não só por premiar‑te,
Senão por dar‑me a mágoa de perder‑te.
                                           (Gregório de Matos)
 
REPETIÇÃO – Consiste na repetição de uma determinada palavra ao longo de um poema, para enfatizar a idéia central.
                     Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o [convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto [Fernandes
que não tinha entrado na história.
                                     (Carlos Drummond de Andrade)



REFRÃO – Repetição de um verso na integra ou com pequenas modificações.
                Não te amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
                                (Almeida Garrett )

paródia – é um recurso usado para brincar com um texto já consagrado; é uma imitação cômica de uma composição poética, mas sem utilizar expressões grosseiras:

      Nel Mezzo del Camin...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.                                                              (Olavo Bilac)


VERSÃO – Recurso utilizado a priori, durante a ditadura, pois havia censura. Posteriormente, na música, utiliza-se um determinado ritmo em uma língua estrangeira para explorar uma outra letra musical. Vale a pena salientar que não se trata de tradução, pois este, utiliza-se da mesma letra em línguas diferentes.


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