Linguagem Poética
Linguagem Poética
Recursos
utilizados para escrever um poema: estrofes, figuras de linguagem, rimas e
métrica (divisão silábica)
Juntamente
com a sistematização escrita da poesia, surgiram classificações para os
elementos que a compõem. Assim cada frase ou linha de um poema é denominada
versos, e a composição sonora entre elas é denominada rima.
(Utiliza
palavras da mesma classe gramatical)
Ardor em
firme coração nascido;
pranto por
belos olhos derramado;
incêndio em
mares de água disfarçado;
rio de neve
em fogo convertido:
Tu, que em
um peito abrasas escondido;
tu, que em
um rosto corres desatado:
quando
fogo, em cristais aprisionado;
quando
cristal, em chamas derretido:
Se és fogo,
como passas brandamente?
Se és neve,
como queima com porfia?
Mas ai, que
andou amor em ti prudente!
Pois, para
temperar a tirania,
como quis
que aqui fosse a neve ardente,
permitiu
parecesse a chama fria.
Gregório de Matos
Rima Rica
(Utiliza palavras de classes gramaticais diferentes)
Velhas
Árvores
Olha estas
velhas árvores, mais belas
Do que as
árvores novas, mais amigas:
Tanto mais
belas quanto mais antigas,
Vencedoras
da idade e das procelas ...
O homem, a
fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem
livres de fome e fadigas;
E em seus
galhos abrigam-se as cantigas.
E os amores
das aves tagarelas
Não
choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos
rindo! Envelheçamos
Como as
árvores fortes envelhecem:
Na glória
da alegria e da bondade,
Agasalhando
os pássaros nos ramos,
Dando
sombra e consolo aos que padecem
Olavo Bilac
Cruzadas
Maldição
Se
por vinte anos, nesta forna escura,
Deixei
dormir a minha maldição,
-
Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh'alma
se abrirá como um vulcão.
E,
em torrentes de cólera e locura,
Sobre
a tua cabeça ferverão
Vinte
anos de silêncio e de tortura
Vinte
anos de agonia e solidão...
Maldita
sejas pelo Ideal perdido!
Pelo
mal que fizeste sem querer!
Pelo
amor que morreu sem ter nascido!
Pelas
horas vividas sem prazer!
Pela
tristeza do que eu tenho sido!
Pelo
esplendor que eu deixei de ser
Olavo Bilac
Intercaladas
Idílio
Quando nós
vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
Antero de Quental
Paralelas
4º
Motivo da rosa
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Dístico
( . . . )
De onde
vieste, afinal? De que imortal paisagem
fugiu, um
dia, a forma flor de tua imagem
fragílima,
de um doce encanto doloroso,
de um
divino palor ardente e luminoso
como feita
à feição de alguma estampa antiga,
de um
missal de outro tempo, onde a insone fadiga
de algum
monge sofreu? De onde vens? De algum sonho
místico? Do
fulgor magnífico e tristinho
( . . . )
Eduardo Guimarães
( . . . )
De onde
vieste, afinal? De que imortal paisagem
fugiu, um
dia, a forma flor de tua imagem
fragílima,
de um doce encanto doloroso,
de um
divino palor ardente e luminoso
como feita
à feição de alguma estampa antiga,
de um
missal de outro tempo, onde a insone fadiga
de algum
monge sofreu? De onde vens? De algum sonho
místico? Do
fulgor magnífico e tristinho
( . . . )
Eduardo Guimarães
Terceto
Mote
De
dous ff se compõe
esta
cidade a meu ver
um furtar, outro foder.
Gregório de
Mattos
De
dous ff se compõe
esta
cidade a meu ver
um furtar, outro foder.
Gregório de
Mattos
Quarteto
Minha terra
tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar,
sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
( . . . )
Gonçalves Dias
Minha terra
tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar,
sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
( . . . )
Gonçalves Dias
Quinteto
Garoa do
meu São Paulo,
- Timbre
triste de martírios -
Um negro
vem vindo, é branco!
Só bem
perto fica negro,
Passa e
torna a ficar branco.
Meu São
Paulo da garoa,
- Londres
das neblinas frias -
Um pobre
vem vindo, é rico!
Só bem
perto fica pobre,
Passa e
torna a ficar rico.
Garoa do
meu São Paulo,
-
Costureira de malditos -
Vem um
rico, vem um branco,
São sempre
brancos e ricos...
Garoa, sai
dos meus olhos.
Mario de Andrade
Garoa do
meu São Paulo,
- Timbre
triste de martírios -
Um negro
vem vindo, é branco!
Só bem
perto fica negro,
Passa e
torna a ficar branco.
Meu São
Paulo da garoa,
- Londres
das neblinas frias -
Um pobre
vem vindo, é rico!
Só bem
perto fica pobre,
Passa e
torna a ficar rico.
Garoa do
meu São Paulo,
-
Costureira de malditos -
Vem um
rico, vem um branco,
São sempre
brancos e ricos...
Garoa, sai
dos meus olhos.
Mario de Andrade
Sexteto
VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Oswald
de Andrade
VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Oswald
de Andrade
Sétima
erro de português
Quando
o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de
Andrade
Oitava
Madrugada
Do fundo de meu quarto,
do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no
músculo da noite
a noite
a noite ocidental
obscenamente acesa
sobre meu país dividido
em classes
Ferreira
Gullar
erro de português
Quando
o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de
Andrade
Oitava
Madrugada
Do fundo de meu quarto,
do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no
músculo da noite
a noite
a noite ocidental
obscenamente acesa
sobre meu país dividido
em classes
Ferreira
Gullar
Nona
SEISCENTOS E
SESSENTA E SEIS
A
vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario
Quintana
SEISCENTOS E
SESSENTA E SEIS
A
vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario
Quintana
As poesias ainda podem ser receber as nomenclaturas:
Ode – Composição
poética dividida em estrofes simétricas; primitivamente, composição poética
para ser cantada
Foram na casa do gato
ALITERAÇÃO -
Repetição de
sons consonantais idênticos ou aproximados, para sugerir o som produzido por algum ser ou objeto
COMPARAÇÃO – utiliza-se da relação direta estabelecida entre a
palavra e aquilo que se pretende designar, comparando, assim, de uma forma
clara.
METONÍMIA – quando uma palavra é usada para designar alguma
coisa com a qual mantém uma relação de proximidade.
PERSONIFICAÇÃO
INVERSÃO – Recurso em que consiste na inversão da ordem dos
fatos.
REPETIÇÃO – Consiste na repetição de uma determinada palavra ao
longo de um poema, para enfatizar a idéia central.
Ode à Cebola
Cebola,
luminosa redoma,
pétala a pétala
formou-se a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra sombria
arredondou-se o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
deu-se o milagre
e quando apareceu
teu rude caule verde,
e nasceram
as tuas folhas como espadas no horto
a terra acumulou seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar distante
duplicou a magnólia
levantando-lhe os seios,
a terra
fez-te assim,
cebola,
clara como um planeta,
e destinada
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de agua,
sobre
a mesa
dos pobres.
Generosa
desfazes
teu globo de frescura
na consumação
fervente do cozido,
e o giram de cristal
ao calor inflamado do azeite
transforma-se em ondulada pluma de ouro.
luminosa redoma,
pétala a pétala
formou-se a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra sombria
arredondou-se o teu ventre de orvalho.
Sob a terra
deu-se o milagre
e quando apareceu
teu rude caule verde,
e nasceram
as tuas folhas como espadas no horto
a terra acumulou seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite o mar distante
duplicou a magnólia
levantando-lhe os seios,
a terra
fez-te assim,
cebola,
clara como um planeta,
e destinada
a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de agua,
sobre
a mesa
dos pobres.
Generosa
desfazes
teu globo de frescura
na consumação
fervente do cozido,
e o giram de cristal
ao calor inflamado do azeite
transforma-se em ondulada pluma de ouro.
Recordarei também como a tua influência
fecunda o amor da salada
e parece que contribui o céu
dando-te a fina forma do granizo
a celebrar a tua luz picada
sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance
das mãos do povo,
regada com azeite,
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolta
em delicado
papel, tu sais do solo,
eterna, intacta, pura
como semente de astros,
e ao cortar-te
a faca de cozinha
sobe a única lagrima
sem mágoa.
Fizeste-nos chorar mas sem sofrer.
Tudo o que existe celebrei, cebola,
mas para mim és
mais formosa que um pássaro
de plumas ofuscantes,
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
baile imóvel
de anémona nevada.
fecunda o amor da salada
e parece que contribui o céu
dando-te a fina forma do granizo
a celebrar a tua luz picada
sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance
das mãos do povo,
regada com azeite,
polvilhada
com um pouco de sal,
matas a fome
do jornaleiro no duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolta
em delicado
papel, tu sais do solo,
eterna, intacta, pura
como semente de astros,
e ao cortar-te
a faca de cozinha
sobe a única lagrima
sem mágoa.
Fizeste-nos chorar mas sem sofrer.
Tudo o que existe celebrei, cebola,
mas para mim és
mais formosa que um pássaro
de plumas ofuscantes,
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
baile imóvel
de anémona nevada.
(Pablo
Neruda)
Elegia – Poema
pequeno, consagrado ao luto ou à tristeza.
Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo
caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade
em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de
aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles
conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de
confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
Carlos Drummond de
Andrade
Trova – Composição
lírica, ligeira e de caráter popular; cantiga, canção; quadra popular
Canção da Saudade
Saudade, palavra doce,
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porquê.
Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.
Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.
Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção:
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.
Um longe olhar que se lança
Numa carta ou numa flor,
Saudade – irmã da esperança,
Saudade – filha do amor.
Uma palavra tão breve,
Mas tão longa de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem, a saber, traduzir.
“Gosto amargo de infelizes”
Foi como a chamou Garrett;
Coração, calado, dizes
Num suspiro o que ela é.
A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto de uma vez;
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem querer.
A saudade é calculada,
Por algarismos também:
“Distância” multiplicada
Pelo fator “Querer bem”.
A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor...
Saudade – dor que é remédio,
Remédio que aumenta a dor.
Saudade, palavra doce,
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porquê.
Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.
Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.
Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção:
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.
Um longe olhar que se lança
Numa carta ou numa flor,
Saudade – irmã da esperança,
Saudade – filha do amor.
Uma palavra tão breve,
Mas tão longa de sentir
E há tanta gente que a escreve
Sem, a saber, traduzir.
“Gosto amargo de infelizes”
Foi como a chamou Garrett;
Coração, calado, dizes
Num suspiro o que ela é.
A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto de uma vez;
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.
Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem querer.
A saudade é calculada,
Por algarismos também:
“Distância” multiplicada
Pelo fator “Querer bem”.
A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor...
Saudade – dor que é remédio,
Remédio que aumenta a dor.
Bastos Tigre
Loa – discurso
laudatório; apologia
Festa dos Bichos
Quando o
bode era doutor
E o cachorro advogado
Tudo andava direito
O mundo bem governado
A justiça muita reta
Ninguém vivia enganado.
O leão sempre foi rei
Casado com uma leoa
Jacaré seu bacharéu
Onça grande pessoa
Mestre sapo professor
Na beira de uma lagoa
Coelho chefe do mato
Peru era viajante
O galo por ser tenor
Tinha o café constante
Macaco bobo do rei
E urso rapaz amante
O porco era um
vagabundo
Passava o dia a beber
Dessa maneira ninguém
Seu amigo queria ser
Pois toda festa que
havia
Ele queria saber
Um dia mestre coelho
Fez uma festa no mato
Foi cachorro, jacaré...
Gente de mais aparater
Finalmente todos os
bichos
Menos porco e mestre
gato.
E a festa começou...
Rato tocava flauta
Periquito rabecão
Catitu seu contra baixo
Cururu no violão
Papagaio reco-reco
E tatu no bombardão
O pinto ia com os pratos
Carneiro com
o tambor
Curica numa rebeca
Era quase
professor
Mestre sapo como
chefe
Era feito o
regedor
Quando o porco soube
disso
Ficou logo
injuriado
Disse ao gato:
Vamos lá!
Eu garanto por teu lado
Se não nos deixarem
entrar
O baile está terminado
O gato disse: Eu
não vou.
Porque acabo
apanhando
O porco lhe
respondeu:
Você bem está
mostrando
Que é gato sem coragem
Pois fique, que eu
vou andando
O porco chegando lá
Queria o baile invadir
Jacaré veio e falou
Jacaré veio e falou
Mandou ele sair
O porco não
obedeceu
Foi preciso a onça intervir
Foi preciso a onça intervir
O porco sacou a faca para
matar ou morrer
A cutia teve um ataque
A paca queria correr
Galinha caiu sem fala
Dura sem se mexer
Catraia gritava tanto
Que tremia a luz da
lua
Minhoca nem acertava
Para que lado era a
rua
Cutia ficou sem pen
Siricória quase nua
Siricória quase nua
Borboleta há muito tempo
Já tinha se
escapolhido
Mosca fez sua viajem
Levou pion seu marido
Levou pion seu marido
Graça disse: -Vocês
briguem
Mas,não me sujem o
vestido
Girafa como era grande
Estava tudo apreciando
Quando viu em suas costas
Quando viu em suas costas
Arara estava trepando
Mosquito sumiu na floresta
E coruja saiu voando
E coruja saiu voando
O urso logo zangou-se
Pela sua namorada
Que era uma linda anta
E estava ali bem trajada
Por um porco embriagado
Sendo
desrespeitada
Afinal com muito custo
Afinal com muito custo
Botaram o porco para fora
Já tinha dado e apanhado
Por isso,disse: É agora
Antes que chegue a polícia
Antes que chegue a polícia
Vou tratar de ir embora
Não demorou veio o
elefante
Que era seu delegado
Que era seu delegado
Com camelo seu colega
Oficial reformado
Oficial reformado
E logo atrás o cavalo
No seu papel de soldado
Coelho então contou-lhes
O que tinha acontecido
Além disso,por ruim
Porco era conhecido
De forma que elefante
Deu tudo por irresolvido
Levaram a queixa ao leão
Da forma que tinham dado
Ali foi expresso a ordem de o
porco
Ser procurado
Mas, por onde andava ele?
Era o caso ignorado
Foram na casa do gato
Que dele era amigo
O que me diz deste homem?
Tornou-se meu inimigo
Deu-me pancada
E roube-me
Deixou-me como um mendigo
Justamente o gato estava
Com o corpo todo marcado
Não tinha nem um vintém
O seu baú arrombado
O porco só lhe fez isso
Por não ter lhe acompanhado
Levaram o gato doente
À presença do leão
O qual entre gemidos
Também pediu punição
De o porco ser
procurado
Para entregar ao leão
No outro dia a mucura
Também foi lá se queixar
Mostrando o braço para o rei
Que prometeu lhe vingar
Resolveram irem todos
Mestre porco procurar
Ganhava um conto de rés
Quem mestre porco pegasse
Tinha um ano de folga
O soldado que o encontrasse
Fosse vivo ou fosse morto
Certo é, que ao rei levasse
Fosse vivo ou fosse morto
Não era essa a questão
Ganhava sempre seu prêmio
O porco à punição
Era mais quem procurava
Para entregar ao leão
Andaram mais de um mês
Sem saber o paradeiro
Até que um dia o encontraram
Bêbado num atoleiro
Querendo dar num mucuím
Por não ser seu companheiro
Cachorro veio e lhe disse:
Olha, eu sou advogado
O pergaminho que tenho
É de ser bem respeitado
Se não quiser ir por bem
Mando levá-lo amarrado
Eu irei, disse o porco,
Mas, só se for carregado
E para casa do rei
Sem demora foi levado
Chegando lá estava a leoa
Sentada numa cadeira
Vendo o porco muito sujo
Falou-lhe desta maneira:
Porco imundo, qual a causa
De tu seres valentão?
Sabes que ser valente
Basta o teu rei leão
De ti tenho muitas queixas
Só de má informação
Pouco importa, disse o porco
Me sai tudo pela custa
Se alguém me deve uma conta
Cedo ou tarde sempre ajusto
Não há justiça de rei
Que venha meter-me susto
Formou o leão um juri
Para o porco ser julgado
Foi quando este conheceu
Que estava desgraçado
Por prova que a seu favor
Nem porca tinha votado
Afinal com muito custo
A comédia teve fim
Teve o decreto do rei
Que foi deste jeito assim:
Como justiça de rei
À sua majestade o leão
Manda fazer avisados
Que o porco não tem razão
Decreto a pena máxima
30 anos de prisão
Rodolfo Coelho
Cavalcanti
Acróstico – Composição
poética, em que as letras iniciais (por vezes mediais ou finais de cada verso),
reunidas, formam verticalmente uma palavra ou frase.
Minha Razão de Viver
Felicidade
maior que se
Instalou em minha vida...
Luz que ilumina e me mostra o
Horizonte a seguir... Abrigo
Onde repouso meus
Sonhos, sem nunca pensar em desistir
Instalou em minha vida...
Luz que ilumina e me mostra o
Horizonte a seguir... Abrigo
Onde repouso meus
Sonhos, sem nunca pensar em desistir
Santher
ALITERAÇÃO -
Repetição de
sons consonantais idênticos ou aproximados, para sugerir o som produzido por algum ser ou objeto
Rio na
sombra
Som
frio
Rio
sombrio.
O longo som
do rio
frio.
O frio
bom
do longo
rio.
Tão longe,
tão bom,
tão frio
o claro som
do rio
sombrio!
(Cecília Meireles)
ASSONÂNCIA
- Repetição da mesma vogal ao longo de um verso
ou poema.
Canção da
garoa
Em cima do
meu telhado
Pirulin
lulin lulin
Um anjo
todo molhado,
Soluça no
seu flautim.
O relógio
vai bater:
As molas
rangem sem fim.
O retrato
na parede
Fica
olhando para mim.
E chove sem
saber por que ...
E tudo foi
sempre assim!
Parece que
vou sofrer:
Pirulin
lulin lulin...
(Mario Quintana)
ECO – Repetição, em seqüência, de um
determinado som no final de palavras, no interior de um verso.
Sino de
Belém, pelos que ainda vêm!
Sino de
Belém, bate bem – bem – bem.
Sino de
Paixão, pelos que lá vão!
Sino de
Paixão, bate bão – bão – baõ.
Sino de
Bonfim, por que chora assim?
(Manuel Bandeira – Os sinos – fragmento)
“Na messe,
que enlourece, estremece, a quermesse.”
(Eugênio de Castro)
METÁFORA
– quando a palavra
passa a indicar alguma coisa com a qual mantém uma relação subjetiva, pessoal.
Baseia-se em uma comparação indireta.
Não desças os degraus dos sonhos
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por tràs de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco esse nosso mundo...
(Mario Quintana)
COMPARAÇÃO – utiliza-se da relação direta estabelecida entre a
palavra e aquilo que se pretende designar, comparando, assim, de uma forma
clara.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)
METONÍMIA – quando uma palavra é usada para designar alguma
coisa com a qual mantém uma relação de proximidade.
A laçada
“O Bento caiu como um touro
No terreiro
E o médico veio de Chevrolet
Trazendo o prognóstico
E toda a minha infância nos olhos”.
(Oswald de Andrade)
“Meus olhos
estão tristes porque você partiu”
PERSONIFICAÇÃO
Poema
Personificação
A
água corria rio abaixo ao urro do vento ululante.
Em um chalé chocolate, pouco abaixo,
podiam-se ouvir o canto das panelas de pressão
e dos bules de chá cansados de apitar.
As ideias, tinham resolvido fugir daquela casa,
melhor, da cabeça de Ana.
Adormecida em pensamentos,
nem sequer sentia a pressão das panelas.
O aposento, adormecido em seu triste coração,
chorava baixinho junto ao vento.
Ana, parecia desmaiada, já estava em um baile,
dançando com os dedos no violão.
Em um chalé chocolate, pouco abaixo,
podiam-se ouvir o canto das panelas de pressão
e dos bules de chá cansados de apitar.
As ideias, tinham resolvido fugir daquela casa,
melhor, da cabeça de Ana.
Adormecida em pensamentos,
nem sequer sentia a pressão das panelas.
O aposento, adormecido em seu triste coração,
chorava baixinho junto ao vento.
Ana, parecia desmaiada, já estava em um baile,
dançando com os dedos no violão.
(Clara Callado)
INVERSÃO – Recurso em que consiste na inversão da ordem dos
fatos.
2º Soneto à
Morte de Afonso Barbosa da França
Alma
gentil, espírito generoso,
Que do
corpo as prisões desamparaste,
E qual
cândida flor em flor cortaste
De teus anos o pâmpano viçoso.
Hoje,
que o sólio habitas luminoso,
Hoje,
que ao trono eterno te exaltaste,
Lembra‑te
daquele amigo a quem deixaste
Triste, absorto, confuso, e saudoso.
Tanto
tua virtude ao céu subiste,
Que
teve o céu cobiça de gozar‑te,
Que
teve a morte inveja de vencer‑te.
Venceste o foro humano em que caíste,
Goza‑te
o céu não só por premiar‑te,
Senão por dar‑me a mágoa de perder‑te.
(Gregório de Matos)
REPETIÇÃO – Consiste na repetição de uma determinada palavra ao
longo de um poema, para enfatizar a idéia central.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o [convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto [Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o [convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto [Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)
REFRÃO –
Repetição de um
verso na integra ou com pequenas modificações.
Não te amo
Não te amo, quero-te: o
amor vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
(Almeida Garrett )
paródia –
é um recurso usado para brincar com um texto já consagrado; é uma imitação
cômica de uma composição poética, mas sem utilizar expressões grosseiras:
Nel Mezzo del Camin...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo. (Olavo Bilac)
VERSÃO –
Recurso utilizado a
priori, durante a ditadura, pois havia censura. Posteriormente, na música,
utiliza-se um determinado ritmo em uma língua estrangeira para explorar uma
outra letra musical. Vale a pena salientar que não se trata de tradução, pois
este, utiliza-se da mesma letra em línguas diferentes.
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